Assaltos a bancos pelo “novo cangaço” impacta no emprego e fechamento de agências

Você já deve ter ouvido falar em casos de assaltos a bancos com explosões, os chamados “novo cangaço” aterrorizando pequenas cidades brasileiras. Mas o que acontece depois que os bandidos fogem? Um grupo de pesquisadores formados Lucas Argentieri Mariani (Universidade de Milão), ao lado de José Renato Ornelas (Banco Central do Brasil) e Bernardo Ricca (Insper), decidiu investigar o impacto dessas ações no uso de tecnologias financeiras pela população local.

Os pesquisadores criaram um banco de dados em cruzamento com informações geradas pelo Banco Central, colocando em perspectiva 1.396 explosões de bancos em 775 municípios de 15 estados brasileiros entre 2018 e 2021.

Desse modo, descobriram que a redução na oferta de dinheiro em espécie nesses municípios (em função das explosões) faz aumentar a adoção de tecnologias financeiras por essas populações. E não apenas isso, há um reflexo até mesmo em fechamento de agências bancárias e no emprego com carteira assinada.

“Novo cangaço”: os assaltos a bancos, as novas tecnologias e a diminuição dos postos de trabalho

“Novo cangaço” é como ficou conhecida a ação de grupos criminosos que explodem bancos em pequenas cidades brasileiras.

A cena é assustadora: criminosos usando armas de grosso calibre, explosivos e ateando fogo em veículos para bloquear vias de acesso durante a madrugada.

Eles explodem e roubam agências bancárias, fazem reféns durante a fuga, trocam tiros com a polícia e deixam para trás toda uma população aterrorizada.

O termo “novo cangaço” é utilizado por fazer referência à prática de ataques violentos semelhantes aos realizados por cangaceiros no início do século XX (entre as décadas de 1920 e 1930), porém, agora, com uso de tecnologias mais avançadas.

Os grupos criminosos envolvidos neste tipo de ação costumam agir com extrema violência, causando danos e prejuízos significativos às instituições financeiras e às comunidades locais.

O que acontece depois que os bandidos fogem?

Os pesquisadores descobriram que com menos dinheiro em circulação, a população busca por alternativas tecnológicas para fazer suas transações financeiras.

É que a disponibilidade de dinheiro nas agências – que sofrem com as explosões – fica a uma condição de quase zero, e isso perdura por pelo menos 6 meses.

Mas um ponto importante a ser ressaltado ainda, é que também há um registro de maior movimentação de serviços financeiros tecnológicos em bancos não afetados pelos criminosos, bem como em fintechs e bancos digitais.

Essas empresas passam a ter aumento significativo em transações e usuários de Pix, após os fatídicos episódios que marcam as localidades.

O que isso tem a ver com a transição dos bancos comerciais tradicionais para um modelo digital?

A transição dos bancos comerciais tradicionais para um modelo de mercado digital já vinha acontecendo no Brasil, mas foi acelerada nos últimos anos.

Entre 2016 e 2021, foram fechadas 4.903 agências bancárias, uma redução de 22%.

Como resultado, o número de agências por 100 mil habitantes diminuiu de 11 para 8,3 e a parcela de municípios sem agências subiu de 36% para 44%.

Essa mudança tem impactos, por exemplo, no emprego.

Segundo dados compilados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), entre 2013 e 2021, o setor bancário já perdeu mais de 69 mil postos de trabalho com carteira assinada no Brasil.

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