Venda de Íris: O Que É, Como Funciona e Quais os Riscos

Nos últimos dias, uma prática curiosa tem chamado a atenção nas redes sociais: vídeos de pessoas explicando como ganharam dinheiro ao participar de um processo que muitos estão denominando como “venda de íris”.

Elas relatam terem recebido dinheiro por cederem a biometria dos olhos. 

Mas afinal, como isso funciona? Quem está por trás disso? E, mais importante, quais são os riscos de compartilhar uma informação tão sensível como a sua íris? Vamos explicar tudo para você.

O que é íris dos olhos

A íris dos olhos é a parte colorida que vemos ao redor da pupila, podendo variar entre tons como azul, verde, castanho ou até cinza, dependendo da genética de cada pessoa. 

Essa estrutura desempenha uma função essencial no controle da luz que entra no olho, regulando o tamanho da pupila. 

Em ambientes claros, a íris contrai a pupila para proteger os olhos do excesso de luz; já em locais escuros, ela a dilata para permitir que mais luz entre, melhorando a visão. 

Além disso, a íris é única para cada indivíduo, o que a torna uma característica ideal para tecnologias de reconhecimento biométrico.

Como funciona a venda de íris?

O processo começa com a promessa de criar um “registro único de humanidade”, ou seja, uma maneira de provar que você é uma pessoa real, e não um robô ou inteligência artificial. 

Essa ideia faz parte do projeto World ID, uma iniciativa da World Foundation, cofundada pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, e desenvolvida pela empresa Tools for Humanity, responsável pela tecnologia utilizada na venda de íris.

O projeto utiliza um equipamento chamado “Orb”, uma espécie de câmera avançada que escaneia a íris do seu olho.

Como participar

Para participar, você precisa baixar um aplicativo chamado WorldApp (disponível para Android e iOS), fazer um cadastro e agendar um horário em um dos pontos de verificação disponíveis no Brasil. 

Siga esses passos:

1) Baixe o World App: O primeiro passo é acessar a App Store ou Google Play e instalar o aplicativo World App no seu smartphone. É por meio dele que todo o processo será gerenciado.

2) Visite uma Orb ou Adicione uma Credencial: Na aba “World ID” do aplicativo, siga as orientações para agendar uma visita a uma Orb – o equipamento que realiza a verificação biométrica – ou para adicionar uma credencial e verificar sua conta.

3) Receba e Utilize Seu World ID: Após a verificação, seu World ID será disponibilizado diretamente no aplicativo.

Durante o processo presencial, a Orb tira três fotos suas: uma do rosto, outra do olho esquerdo e mais uma do olho direito. 

Essas imagens são transformadas em um código exclusivo, chamado “código de íris”. 

Quanto dá para ganhar com a venda de íris?

Ao ceder sua biometria ocular, você recebe 25 Worldcoins, uma criptomoeda com valor flutuante, assim como o Bitcoin. 

Atualmente, essas moedas estão avaliadas em cerca de R$ 12,33 cada, o que resulta em uma recompensa que passa de R$ 300. 

Para transformar esse valor em dinheiro, é necessário transferir as criptomoedas para uma corretora de criptoativos e realizar o saque.

Esse dinheiro é visto como uma motivação para muitas pessoas participarem do projeto, mas a empresa responsável insiste que isso não é um “pagamento” e sim uma “recompensa”. 

Apesar disso, para quem está buscando uma renda extra, a prática tem se tornado uma alternativa tentadora.

O que acontece com os seus dados?

Uma das principais preocupações envolvendo a venda de íris é o destino dos dados coletados. 

De acordo com a empresa Tools for Humanity, as imagens originais da íris são apagadas logo após serem transformadas em códigos criptografados. 

Esses códigos, chamados “códigos de íris”, são armazenados em partes, usando uma tecnologia chamada Computação Multi-partidária Anonimizada (AMPC).

Além disso, os fragmentos desses códigos são enviados para servidores de universidades renomadas, como a Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, e a Universidade Friedrich Alexander Erlangen-Nürnberg, na Alemanha. 

A empresa garante que esses fragmentos são completamente anônimos e não podem ser usados para identificar uma pessoa diretamente.

Mesmo assim, especialistas em segurança alertam que o vazamento de informações biométricas pode ter consequências graves. 

Diferente de uma senha ou um número de CPF, que podem ser alterados em caso de roubo, a sua íris é única e não pode ser substituída.

Alguns países proibiram

Embora o projeto prometa segurança e privacidade, muitos questionam se as práticas realmente são tão seguras quanto a empresa afirma. 

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) no Brasil está investigando se a coleta e o uso desses dados estão em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). 

Além disso, países como Espanha e Portugal já proibiram a prática, levantando preocupações sobre privacidade e exploração de populações vulneráveis.

Outro ponto que gera debate é o caráter ético da venda de íris

A prática de oferecer dinheiro ou recompensas financeiras em troca de dados sensíveis pode ser vista como uma forma de explorar economicamente pessoas que, por sua vez, estão em situações financeiras difíceis. 

O argumento é que muitas dessas pessoas podem não compreender completamente os riscos a longo prazo de compartilhar sua biometria.

Quais são os riscos envolvidos?

  • Vazamento de dados: Mesmo que os dados sejam criptografados e divididos em fragmentos, nenhuma tecnologia é 100% segura contra ataques cibernéticos. Caso esses códigos sejam acessados por hackers, suas informações biométricas podem ser usadas de maneiras que você nem imagina.
  • Uso indevido de dados: Há um risco de que os dados coletados sejam utilizados para outros fins no futuro, especialmente em um cenário onde tecnologias como inteligência artificial estão avançando rapidamente.
  • Exploração econômica: Oferecer dinheiro em troca de dados pode parecer uma boa ideia no curto prazo, mas você pode estar abrindo mão de algo muito mais valioso – sua privacidade.
  • Irreversibilidade: Diferente de uma senha ou um cartão de crédito, você não pode “trocar” sua íris se algo der errado.

Como participar com segurança (se decidir participar)

Se você está pensando em participar da venda de íris, é importante tomar algumas precauções:

  • Leia os termos de uso: Certifique-se de entender como seus dados serão utilizados e armazenados.
  • Esteja atento aos seus direitos: No Brasil, você tem direito a saber como seus dados estão sendo tratados e pode exigir que sejam excluídos caso não queira mais participar.

A expansão do projeto no Brasil

Desde novembro de 2024, o projeto tem se expandido rapidamente no Brasil. 

O número de pontos de verificação na cidade de São Paulo, por exemplo, aumentou de 8 para 40 em poucos meses. 

No total, mais de 400 mil brasileiros já participaram do cadastro.

A América Latina é um dos mercados com maior número de usuários verificados – são mais de 6 milhões de pessoas. 

Apesar disso, a prática ainda está longe de ser universalmente aceita, com muitos países e especialistas levantando dúvidas sobre seus benefícios reais e riscos.

A decisão é sua

A prática da venda de íris levanta questões importantes sobre privacidade, segurança e ética. 

É essencial, portanto, compreender os riscos e avaliar se a troca dos seus dados biométricos vale o dinheiro recebido. 

Como em qualquer decisão financeira, a informação é a sua melhor ferramenta para evitar problemas futuros.

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