O que é LGPD, a lei que o Burger King está sendo acusado de violar?

A recente denúncia do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) contra o Burger King trouxe à tona um tema importante: o uso responsável dos dados pessoais no Brasil. A controvérsia envolve a campanha “Pix de 1 centavo”, promovida pela rede de fast food, acusada de desrespeitar as normas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A ação chamou atenção para os limites que as empresas precisam respeitar ao tratar informações dos consumidores, reforçando a importância da proteção da privacidade em um mundo cada vez mais digital.

Mas afinal, o que é a LGPD e como ela se aplica nesse caso?

O que é LGPD

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) é a principal legislação brasileira que regula o tratamento de dados pessoais, garantindo que sejam utilizados de forma responsável e com o consentimento dos titulares. 

Inspirada na GDPR, lei europeia implementada em 2018, a LGPD entrou em vigor no Brasil em setembro de 2020.

Seu objetivo é proteger a privacidade dos cidadãos, determinando como informações como CPF, e-mail, telefone e outros dados pessoais podem ser coletados, armazenados e usados por empresas e instituições. 

A lei estabelece regras claras para evitar abusos, como uso indevido de dados, práticas invasivas de marketing e riscos à privacidade.

O caso do Burger King

A polêmica envolvendo o Burger King começou com a campanha “Pix de 1 centavo”. 

Nela, a empresa fez depósitos de R$ 0,01 nas contas bancárias de clientes e enviou mensagens publicitárias incentivando a compra de nuggets da marca. 

De acordo com o Idec, a rede utilizou dados pessoais de consumidores cadastrados no programa de fidelidade, como CPF, e-mail e número de telefone, para identificar quais informações correspondiam a chaves Pix válidas.

O instituto afirma que essa prática configura um uso indevido de dados, pois os consumidores não deram consentimento explícito para que suas informações fossem usadas dessa forma. 

Além disso, a campanha teria gerado desconforto nos clientes, que relataram sentir suas privacidades violadas ao receberem mensagens inesperadas diretamente em seus extratos bancários.

Quais são as acusações contra o Burger King?

A denúncia apresentada pelo Idec tem como base a LGPD e outras legislações relacionadas à proteção do consumidor, como o Código de Defesa do Consumidor (CDC). 

Entre as acusações, destacam-se:

  • Violação da LGPD: A campanha teria usado dados pessoais para fins comerciais sem o consentimento dos consumidores. A lei exige que toda coleta ou uso de dados pessoais seja justificado e que os titulares sejam informados previamente.
  • Falta de transparência: Não houve clareza sobre como os dados seriam usados, desrespeitando o princípio da transparência previsto na LGPD.
  • Marketing agressivo: O envio de mensagens publicitárias diretamente em transações financeiras foi considerado invasivo, violando normas de boa-fé e respeito ao consumidor.
  • Desvirtuamento do Pix: Segundo o Idec, o uso do Pix para fins promocionais sobrecarrega o sistema e afeta sua credibilidade.
  • Exploração emocional: A campanha também é acusada de atingir menores de idade, o que contraria o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A resposta do Burger King e do Banco Central

Procurado pela imprensa, o Burger King afirmou que não recebeu nenhuma notificação oficial sobre o caso, mas está à disposição para esclarecer os fatos. 

Já o Banco Central, que também foi acionado pelo Idec, declarou que não há restrições para envio de transações de R$ 0,01 ou para consultas de chaves Pix para iniciar pagamentos.

Apesar disso, especialistas apontam que a questão vai além da regulamentação do Pix. 

Segundo o advogado Alexander Coelho, especialista em direito digital, a questão central é a finalidade do uso dos dados. 

“Os consumidores forneceram informações para fins financeiros, não para campanhas de marketing. Isso só poderia ser feito com consentimento explícito”, explicou Coelho ao jornal Estadão .

Por que a LGPD é importante?

Casos como o do Burger King mostram a relevância da LGPD para proteger os direitos dos consumidores. 

Antes da lei, muitas empresas utilizavam dados pessoais de forma indiscriminada, muitas vezes sem que os titulares soubessem ou consentissem. 

Com a LGPD, o Brasil passou a exigir que qualquer tratamento de dados pessoais tenha uma base legal, como consentimento ou interesse legítimo, e que os titulares tenham acesso claro às informações sobre como seus dados são usados.

Entre os benefícios da LGPD estão:

  • Maior privacidade e segurança: Os cidadãos têm mais controle sobre suas informações.
  • Responsabilização das empresas: As organizações precisam justificar o uso de dados e garantir sua proteção.
  • Conformidade internacional: A lei permite que empresas brasileiras façam negócios com países que já possuem legislações semelhantes, como os da União Europeia.

O histórico de polêmicas do Burger King

Esta não é a primeira vez que o Burger King se envolve em polêmica. 

Em 2022, a rede foi acusada de propaganda enganosa devido ao lançamento do “Whopper Costela”. 

Apesar do nome, o lanche não continha carne de costela, o que gerou indignação e levou a marca a se retratar publicamente. 

O produto foi renomeado para “Whopper Paleta Suína” após a repercussão negativa.

Já em 2024, a rede lançou um novo produto, o “King Costela”, prometendo “costela desfiada real” e até brincando com o caso anterior em sua publicidade. 

A empresa chegou a agradecer ao Procon-SP por inspirar melhorias no cardápio, mas o episódio revelou a necessidade de maior cuidado em suas campanhas publicitárias.

Agora, com a acusação de violação da LGPD, o Burger King volta a estar no centro de uma polêmica envolvendo a relação com seus consumidores. 

Enquanto o caso anterior abordava propaganda enganosa, a nova denúncia traz à tona questões ainda mais sensíveis, como privacidade, proteção de dados e respeito às leis digitais.

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